Elaboração de uma Redação Científica
A elaboração de textos científicos requer a observância de princípios fundamentais, os quais podem ser sintetizados em quatro aspectos essenciais: clareza, precisão, comunicabilidade e consistência. Um texto é considerado claro quando transmite de forma inequívoca o significado que o autor deseja comunicar, evitando ambiguidades e interpretações equivocadas. A adoção de uma linguagem excessivamente rebuscada, com o uso de termos desnecessários, pode dispersar a atenção do leitor e gerar confusão.
A clareza está intimamente relacionada à precisão linguística. Na redação científica, a precisão implica que cada palavra escolhida exprima exatamente a ideia que se pretende comunicar. Embora a linguagem científica, devido ao seu caráter técnico, ofereça menos espaço para variações semânticas em comparação com a linguagem literária, é essencial que o autor selecione cuidadosamente os termos e evite expressões coloquiais, assegurando que a mensagem seja transmitida com exatidão.
A comunicabilidade é outro princípio indispensável na redação científica. É crucial que os temas sejam apresentados de maneira direta, objetiva e com uma estrutura lógica e contínua, facilitando o entendimento do leitor. A fluidez do texto é comprometida quando frases longas e complexas substituem palavras simples, ou quando a sequência de ideias é interrompida, prejudicando a compreensão.
Por fim, o princípio da consistência é um elemento crucial do estilo científico e deve ser analisado sob três dimensões: expressão gramatical, categoria e sequência. A consistência gramatical refere-se à uniformidade na construção das frases, como evitar a alternância entre substantivos, frases e períodos completos na enumeração de itens. A consistência categorial implica que as seções de um capítulo devem manter um equilíbrio temático, abordando conteúdos similares de forma homogênea. Já a consistência sequencial demanda que a organização dos conteúdos siga uma ordem lógica e coerente, refletindo um raciocínio estruturado.
Qualidades de um Bom Texto Científico
A redação científica, por sua natureza, adota uma estrutura dissertativa tradicional, composta por introdução, desenvolvimento e conclusão. Um texto científico deve ser autossuficiente, ou seja, capaz de transmitir todas as informações necessárias de maneira clara e completa, sem que o leitor precise recorrer a outras fontes para compreender o conteúdo.
A elaboração de trabalhos acadêmicos, como artigos e dissertações, requer que o autor observe rigorosamente certas características para assegurar a eficácia na transmissão da informação e na compreensão por parte do leitor. Um princípio fundamental nesse processo é a empatia com o leitor, isto é, o autor deve sempre considerar a perspectiva do público-alvo ao redigir.
Alguns dos princípios básicos dessa interação entre autor e leitor incluem:
- Clareza de expressão: O texto deve ser perfeitamente compreensível, sem deixar margem para dúvidas ou interpretações errôneas. O autor deve revisar cuidadosamente o que escreveu, colocando-se no lugar do leitor. Se durante a leitura o autor encontrar dificuldades, é provável que o leitor também as encontre.
- Objetividade na apresentação: A seleção do material a ser incluído no texto deve ser criteriosa, de modo a apresentar apenas informações relevantes. Essa objetividade é particularmente importante em artigos científicos, nos quais a concisão é muitas vezes valorizada.
- Precisão na linguagem: A precisão é vital na redação científica, onde as palavras e os elementos gráficos (como figuras e tabelas) devem ser escolhidos de forma a expressar exatamente o que se deseja comunicar. A escolha dos termos deve ser feita com rigor para evitar ambiguidades.
- Uso correto das normas linguísticas: Erros na escrita podem resultar tanto de ignorância quanto de descuido. No primeiro caso, é recomendável o uso de dicionários e gramáticas. No segundo, o descuido pode comprometer a percepção do leitor sobre a qualidade do trabalho como um todo, sendo visto como um desrespeito.
Estrutura de Projeto de Pesquisa
Um projeto de pesquisa é uma proposta detalhada que define uma questão específica e a forma pela qual será investigada, estando sujeito a ajustes durante seu desenvolvimento. Esse documento deve conter uma descrição clara e concisa dos aspectos fundamentais da pesquisa, informações sobre os sujeitos envolvidos, qualificação dos pesquisadores e as instâncias responsáveis.
De maneira geral, um projeto de pesquisa é estruturado em três partes: elementos pré-textuais (como capa e sumário), elementos textuais (incluindo introdução, objetivos, justificativa e metodologia) e elementos pós-textuais (como cronograma, bibliografia e anexos). A clareza e a concisão são essenciais, mesmo que nem todos os modelos de projeto incluam uma introdução. Introduzir o tema de forma envolvente e capturar a atenção do leitor/avaliador é uma estratégia recomendada.
Estrutura da Dissertação ou Tese
A dissertação ou tese é um tipo de composição acadêmica que expõe ideias gerais, seguidas pela apresentação de argumentos que as sustentam. Esse gênero textual distingue-se por sua impessoalidade, abordando temas de maneira analítica e crítica.
Geralmente, uma dissertação ou tese é dividida em três partes principais: preliminares, corpo principal e apêndices. As preliminares incluem elementos como capa, folha de rosto, resumo em português e inglês, sumário, entre outros. O corpo principal compreende capítulos dedicados à introdução, revisão da literatura, métodos, resultados, discussão e conclusões. Os apêndices podem conter tabelas, figuras adicionais, glossários e outros anexos.
Estrutura da Monografia
A palavra “monografia” tem origem etimológica em “mónos” (um só) e “graphein” (escrever), referindo-se à redação sobre um único tema. Uma monografia é um trabalho acadêmico que reflete sobre um problema específico, resultante de um processo de investigação sistemática. A monografia pode ter dois sentidos: estrito, semelhante a uma tese, e lato, englobando trabalhos científicos diversos.
As monografias de conclusão de curso (TCC) diferenciam-se das dissertações e teses pelo nível de aprofundamento teórico e rigor metodológico exigidos. No entanto, todas essas formas de escrita acadêmica compartilham a necessidade de uma redação clara, objetiva e de acordo com as normas técnicas vigentes.
Conclusão
A redação científica deve ser caracterizada por uma organização lógica, elegância, simplicidade, concisão e clareza. Escrever um texto científico exige leituras prévias, estudos aprofundados e familiaridade com modelos literários apropriados. O autor deve sempre considerar o público-alvo e, independentemente do nível de especialização, respeitar as regras gramaticais e as normas de normalização de documentos.
Os princípios e recomendações apresentados visam orientar a escrita científica sem inibir o estilo pessoal do autor. Embora não garantam, por si só, a excelência na redação, esses princípios fornecem uma base sólida para a construção de um texto claro, preciso e comunicativo.
Reescrito do original de José Maurício Pinheiro de 2005: Cuidados na Elaboração de uma Redação Científica.