O que é PTT, Peering e Trânsito?

Em tempos onde tudo está conectado, a Internet é cada vez mais importante e muito se tem  feito para ampliar e melhorar essas comunicações em capacidade, velocidade e segurança.

Uma forma de reduzir as distâncias e custo para essas conexões são os chamados Pontos de Troca de Tráfego, ou PTT.

Mas o que vem a ser exatamente um PTT?

Imagine a seguinte situação:

Você convida seu vizinho para jogar online, cada um em sua residência e usando operadoras de telecom diferente para se conectar à Internet.

A Operadora X que você está usando não tem conexão direta com a operadora Y do seu vizinho, mas ela tem contrato com uma operadora de conexão internacional.

A operadora do seu vizinho também tem contrato com uma outra operadora internacional.

O seu vizinho está do lado da sua casa, mas onde vocês vão trocar mensagens?

Provavelmente fora do Brasil, em algum lugar onde essas operadoras internacionais se encontram.

Sabemos que a Internet é feita de muitas redes e a sua operadora precisa se conectar com alguma outra rede e essa com outra e assim sucessivamente. Em algum ponto você vai cruzar com a conexão do seu amigo na Internet.

Isso pode ocorrer na sua cidade, em outro estado ou até mesmo em outro país.

Mas se esse cruzamento ocorrer mais próximo de você, o tempo que levará para enviar e receber informações do seu amigo será menor.

Outro exemplo: Você mora no Rio de Janeiro e quer assistir a um vídeo de uma empresa de Streaming que também tem seus servidores no Rio de Janeiro.

Mas nesse caso, a sua operadora e essa empresa têm ligações em um ponto comum no Rio mesmo.

Então você vai se conectar a esse conteúdo muito mais rapidamente, sem dar uma volta em outra cidade ou país.

E se além dessa empresa de streaming você também pudesse se conectar diretamente na rede do Youtube, Facebook, Google, Projeto de Redes e outros conteúdos que você acessa frequentemente sem precisar dar voltas ou passar de uma rede para outra até chegar onde está esse conteúdo? Bom né?

A proposta de um PTT é justamente essa.

Criar um ponto próximo do usuário onde as operadoras ou as redes em geral podem se encontrar.

Isso traz melhoria na qualidade da conexão, com menor latência, maior segurança, mais redundância e redução de custos.

No Brasil chamamos de PTT o Ponto de Troca de Tráfego.

Mas encontramos por aí outras siglas que de modo geral significam a mesma coisa

PTT = IXP = NAP

IXP=Internet Exchange Point

NAP=Network Access Point

PTT= Ponto de Troca de Tráfego (Brasil)

No Brasil o PTT é um projeto do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGIbr) que promove e cria a infra-estrutura necessária para a interconexão direta entre as redes que compõem a Internet Brasileira.

Um PTT é como um grande hub regional onde todas as redes podem se interligar.

Basicamente o PTT é um switch

O que é o AS?

Quando falamos de redes conectadas no PTT, entendemos cada rede como um AS(Autonomous System, ou Sistema Autônomo).  

O gerenciamento do PTT e da internet inteira é feito por roteamento entre os ASses. Por isso é necessária essa separação das redes e identificá-las com códigos de AS.

Quando uma entidade recebe um bloco de endereços IP próprios ela recebe também um número de identificação desse bloco, é o ASN (Autonomous System Number).

Tecnicamente um AS seria uma rede ou um conjunto de redes com características e políticas de roteamento comuns sob uma mesma gestão.

Quando você contrata o link de uma operadora, ela lhe concede um IP válido para se conectar à Internet.  Para todos na Internet você está dentro da rede dessa operadora e utiliza as políticas de roteamento da mesma. O AS está em nome dessa operadora e ela decide os roteamentos para a Internet.  

Vamos supor agora que você precise de redundância e contrata uma outra operadora. Então receberá também um IP diferente e quando estiver usando o link dessa operadora estará sob as políticas de roteamento da mesma, dentro da sua dessa operadora.

Você até pode definir a operadora por qual deseja sair para a internet ou fazer um balanceamento, mas não conseguirá controlar por qual operadora as pessoas na Internet vão se conectar a você, caso você tenha um site ou conteúdo em sua casa ou empresa.

Se você divulgar o IP que recebeu da Operadora X todos vão chegar a você pela Operadora X e se divulgar o endereço IP da Operadora Y todos vão chegar pela operadora Y. Não tem como balancear ou no caso de uma falhar automaticamente usarem a outra operadora. Ou seja, você não tem redundância.

A solução é solicitar os seus próprios endereços IPs com o AS e através de BGP fazer os roteamentos de saída e anunciar na internet os roteamentos de retorno também, bem como as redundâncias.

Outra vantagem de possui um AS, é ainda poder fazer acordos de troca de tráfego no PTT com outras entidades.

Alonguei-me um pouco na explicação do AS mas esse conceito é fundamental para se entender o funcionamento do PTT

Onde estão os PTTs?

Atualmente existem 30 PTTs regionais ativos e um em ativação pelo Brasil, que são:

  • Aracaju
  • Belém
  • Belo Horizonte
  • Brasília
  • Campina Grande
  • Campinas
  • Cuiabá
  • Caxias do Sul
  • Curitiba
  • Florianópolis
  • Fortaleza
  • Foz do Iguaçu
  • Goiânia
  • João Pessoa
  • Lajeado
  • Londrina
  • Maceió (Em ativação)
  • Manaus
  • Maringá
  • Natal
  • Porto Alegre
  • Recife
  • Rio de Janeiro
  • Salvador
  • Santa Maria
  • São José dos Campos
  • São José do Rio Preto
  • São Luís
  • São Paulo
  • Teresina
  • Vitória

Esses PTTs não se comunicam diretamente entre si, para evitar concorrer com as operadoras e incentivar o uso regional do serviço. Portanto, PTT não é um um backbone.

Mas existem operadoras que têm ligação em mais de um PTT e consequentemente conseguem vender aos clientes a ligação entre eles e até aos pontos de troca de tráfego fora do Brasil.

Não há custo para a porta do PTT, mas sim para chegar até ele com um enlace físico, ou cross connect, pois a infraestrutura de ligação deve ser custeada pelo participante.

Como chegar ao PTT?

A primeira é obviamente levar a rede até lá, seja por fibra que é a forma mais comum ou até por rádio digital em alguns casos.

Outra forma é contratando o uso da rede de algum NSP (Network Service Provider) que já está no PTT.

Se o NSP for Ponto de Interconexão (PIX) nessa localidade, o link será entregue diretamente no equipamento do PTT nas dependências do NSP mesmo.

Se o participante contratar de um NSP um link para chegar até a localidade do PTT e o NSP não for PIX nessa localidade, o link deve ser entregue em um PIX existente, um IDC, que normalmente irá lhe cobrar uma taxa para conexão entre o equipamento do NSP e o equipamento do PTT. Essa conexão algumas vezes é chamada de cross-connect ou golden jump.

Esses Pontos de Interconexão são empresas que fazem um PTT particular e têm conexão ao PIX central do PTT, mas com todo apoio e respaldo do CGI.BR, inclusive com este cedendo equipamentos.

Veja abaixo como está atualmente a estrutura do PTT do Rio de Janeiro:

Já existem PTTs em diversos pontos pelo Brasil, mas algumas operadoras ainda insistem em se conectar apenas ao PTT de São Paulo. Por exemplo, tem operadora que sai de Manaus e se conecta diretamente ao PTT de São Paulo, sendo que já existe um PTT em Manaus.

Eles alegam que no PTT de Manaus não existe muitas operadoras de acesso e conteúdo conectadas.

É uma situação complicada, pois os provedores de conteúdo só vão se interessar em conectar onde tem mais participantes e os participantes só vão se interessar em conectar onde tem mais provedores de conteúdo como Netflix, Youtube, Facebook, Akamai, Cloudflare e tantos outros.

Então é importante frisar a importância do PTT regional, pois quanto mais participantes, mais os provedores de conteúdo vão se interessar por ele .

O site Projeto de Redes por exemplo está no Canadá, mas tem cache em São Paulo e Rio de Janeiro com conexão direta nos PTTs de São Paulo e Rio de Janeiro.

Vamos falar sobre isso em um próximo artigo.

Mas, não basta um provedor apenas se conectar a um PTT regional.

Isso não garante acesso ao resto do mundo.

Ele precisa ainda fazer acordos com uma ou mais operadoras maiores, preferencialmente de nível 1 (Tier 1).

Um desses acordos pode ser a compra de “trânsito”.

Trânsito

Trânsito é um acordo entre dois AS ou Provedores (ISP).

Quando o ISP Tier1 oferece trânsito ao ISP Local, os usuários do ISP Local poderão acessar os usuários de todos os outros AS com quem o ISP Tier1 tem “peering”.

Um acordo de trânsito envolve, normalmente, o pagamento de taxa de transporte do ISP Local para ISP Tier1. Nesse acordo, todo o tráfego requisitado pelos usuários de um ISP passa “por dentro” da rede de um outro ISP para alcançar outros usuários.

Os “outros usuários“, dependendo do alcance do ISP Tier1, podem ser todos na Internet.

Peering

O peering é a conexão de redes separadas com o objetivo de troca de tráfego entre os seus usuários. Onde, normalmente, nenhuma das partes paga à outra em associação com a troca de tráfego.

Em vez disso, cada um deles obtém receitas de seus próprios clientes.

Tier 1, Tier 2 e Tier 3

Os provedores de Tier-1 compõem o núcleo da Internet e fazem peering entre si através de acordos bilaterais para prover trânsito global. Os provedores de nível secundário (Tier-2) são menores e normalmente oferecem serviços regionais, consumindo e pagando pela conectividade e trânsito dos provedores primários. Também existem os provedores locais (Tier-3) que oferecem serviços para os usuários finais.

Um provedor que não contrata trânsito mas usa a sua própria estrutura e peering para se conectar a toda a Internet é considerado Tier 1.

Looking Glass

O componente looking glass trata-se de um roteador ou um servidor que possui suporte a BGP, conectado aos servidores de rota.

A utilidade desse recurso é que uma vez conectado aos servidores de rota, recebe todos os anúncios dos participantes do PTT e pode ser usado para consulta das rotas anunciadas no PTT e a preferência que cada uma tem sob as demais. Isso acaba sendo útil aos participantes do PTT para verificar também se seus anúncios estão sendo feitos corretamente e se o efeito está de acordo com o esperado.

A figura não mostra o PTT para ficar mais didática, mas peering e trânsito podem ser feitos pelo PTT também.

Conclusão

De forma bastante simplificada mostrei não somente o que é e como funciona um PTT, as  diferenças entre trânsito e peering mas também uma ideia de como é a estrutura da Internet mundial.

Mais informações sobre o PTT no endereço http://www.ix.br

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *